Como já declarei inúmeras vezes, sou professora, com muito orgulho e com muito amor. Durante 40 anos, 28 dos quais trabalhando também no estado do Rio de Janeiro, procurei honrar minha profissão e principalmente dar o melhor possível para meu aluno. Assisti governo após governo desrespeitar as instituições de ensino, o aluno e a nós profissionais. Mas era de se esperar de governos formados por pessoas sem caráter, e obviamente sem nenhum compromisso social. Para quem quer um povo manipulável, nada melhor do que sabotar o ensino.
Nas situações mais absurdas que eram criadas por políticos, no mínimo, incompetentes, sempre ouvia alguém falar: “pior que tá não dá pra ficar”. E eu sempre respondia: “não os subestimem”. Mesmo aposentada pelo estado, eles conseguiram me mostrar que eu estava certa. Eles conseguem se superar e dessa vez, resgataram (infelizmente) a ideia de cidadão de segunda classe. E o que é pior nessa história, é que o professor aposentado passou na verdade a cidadão de terceira classe. Pois se o professor ativo fica na incerteza se o pagamento virá no dia divulgado, o aposentado já tem certeza que não virá.
Como cidadã que sempre cumpriu suas obrigações, sinto-me completamente humilhada ao perceber que não sou respeitada no meu direito básico, que é o de sobrevivência.
Acredito que as mudanças que corrigirão esses, assim como outros absurdos de nosso país, só virão quando percebermos que o problema do outro também é meu problema. Quando aprendermos que o mundo não gira em torno do meu umbigo. Ou como eu brincava com meus alunos, quando deixarmos para trás e para sempre a filosofia de que “farinha pouca meu pirão primeiro”. O meu problema, poderá ser o seu amanhã, pois, se os governos disserem que não tem dinheiro para pagar e pronto, o que farão as empresas particulares que são por eles fiscalizados?
Como cidadã sou desrespeitada quando pago uma nota preta de impostos e não tenho direito a uma saúde de qualidade, tendo que pagar para a máfia dos planos de saúde quase metade de meu salário. Meu filho não teve direito a uma educação pública de qualidade, pois as escolas estavam sucateadas e com salas que deveriam ter 30 alunos e estavam com mais de 60. Cheguei a dar aula em várias turmas que pelo menos dois ou três alunos precisavam ficar brigando por um espaço na porta para assistir a aula. Tenho certeza que vários colegas aposentados deram aula para muitas turmas cujos diários tinham que ter emendas, pois a gráfica mandava com espaço para 50 alunos e a turma tinha 64, 65... A essa lista de desrespeitos, que poderia se alongar por várias páginas, acrescento agora, a necessidade de sair em busca de mandado judicial para receber meu salário e por incrível que pareça, ainda ver que as autoridades não atendem prontamente como deveriam e ainda ficam protelando enquanto podem.
Senhor governador e assessores só me resta dizer que embora vocês me considerem uma cidadã que não merece respeito, lhes digo com toda certeza: “Tenho o orgulho e a dignidade que vocês não conseguiram me roubar e que vocês nunca terão”.
Dinaiá Lopes
07/08/16