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Amor à vida
Amor à vida

 

Félix com o pai

Amor à vida

 

          Há mais de dez anos deixei de acompanhar novela, mas é claro que a mídia e os amigos não deixam que ela passe despercebida, pois há sempre um jornaleiro no ponto de ônibus, uma prateleira na beira do caixa do supermercado e não dá para evitar. Lá estão os sorrisos dos atores globais com as frases chamativas sobre o que está acontecendo na novela. Você acaba assistindo por tabela.

          Não foi diferente com Amor à vida. As pouquíssimas vezes em que por algum motivo me vi assistindo algum capítulo, me recordava de imediato porque parei de acompanhar novela. Esta novela então abusava dos chavões, dos diálogos de dramalhão mexicano e principalmente da paciência do telespectador que precisa que a história se desenvolva com um pouquinho de coerência. Mas devo confessar: não deu para evitar, sentei para assistir o último capítulo.  O interessante é que não foi por esperar o tão badalado beijo gay, mas por uma chamada da TV em que o autor dizia que ele preparou um final nunca visto na televisão brasileira e que não estava se referindo a beijo gay. Pegou-me pelo pé. Fiquei curiosa e quis assistir.

          O beijo gay é inegavelmente um ponto muito importante na TV e devo acrescentar que foi muito bem feito. Estava dentro do contexto, foi feito com muita suavidade e principalmente demonstrava uma relação realmente de afeto. Aos que dizem que se sentiram agredidos, eu digo que me agrediu mais as cenas entre a Dira Paes e o Kauã durante a minissérie, pois era o sexo pelo sexo. O beijo do Félix e seu carneirinho era um beijo de amor, e tanto atores quanto direção conseguiram transmitir este amor. Então só isto já valeria ter assistido ao capítulo. Mas o melhor estava por vir.

          Relação entre pai e filho por si só já é uma coisa complicada, se entra a dramaturgia, pronto, dá pano pra manga. Mesmo sendo o último capítulo ainda ficava bem claro o comportamento agressivo do pai com o filho e achei muito bonito do autor colocar que o filho deve cuidar do pai independente do tipo de relação que eles tiveram. Mas a cena final não poderia ser mais bonita. Acredito que deu pra dar uma sacudida nas nossas ideias de amor entre pai e filho.  Diante da situação apresentada durante toda a novela, Félix dizer “te amo” já seria muito bom, mesmo não ouvindo o retorno, mas receber o eu te amo de volta, é a glória. Parabéns diretores, atores e autor que teve a ideia da cena (mesmo que parecida com certo filme, mas deixa pra lá).

          Pra mim arte só é arte quando toca seu coração de alguma forma, e esta cena final me tocou muito. Fiquei imaginando se não poderia ser eu sentada ao lado de meu pai e dizendo o que nunca tive oportunidade de dizer.  Por esta cena final valeu a pena assistir o dramalhão mexicano. Valeu a pena, pois por alguns momentos eu também sentei naquela praia com meu pai de mãos dadas e nos fazendo declarações de amor em silêncio.

Dinaiá Lopes

01 / 02 / 2014