
Ontem o golpe militar completou 55 anos e manifestações foram feitas pedindo “Ditadura nunca mais”. Esse pedido é fácil de entender, mas o que não se deveria esperar nos dias de hoje, é ver pessoas defendendo a ditadura. E sinceramente eu adoraria perder meu tempo tentando ouvi-las para tentar entender através de seus argumentos, o que as levaram a pensar dessa forma. Mas nesse caso talvez houvesse um problema: depois de ouvir seus argumentos eu apresentaria os meus, mas não acredito que uma pessoa que defenda ditadura saiba o que é debate e muito menos ouvir argumentos contrários.
Eu sempre soube que chegaria o dia em que a memória nacional falharia e esse equívoco histórico aconteceria. Se houvesse uma esperança de que essa amnésia histórica não acontecesse, ela seria derrotada pelo modo como trataram a educação nesse país.
Vivemos num país em que pessoas que não têm argumentos apenas manipulam o poder e a ignorância do povo. Aliás não é segredo que a ignorância do povo é consequência de séculos de manipulação do poder. Agora mesmo enfrentamos a questão de que todo professor é doutrinador. Principalmente os que falam o que não interessa ao poder. O foco da educação não é defender um ou outro lado, o objetivo é levar os alunos, futuros cidadãos, a refletir que nada justifica tolher a liberdade do ser humano apenas por pensar diferente. Se há doutrinação nisso, mais uma vez fica a cargo da visão de quem não tem argumento, mas tem o poder.
Assisti a uma entrevista com Steven Spielberg, em que ele explicava porque o dinheiro arrecadado com o filme A lista de Schindler era usado em uma fundação que recolhia depoimentos de judeus espalhados pelo mundo, que viveram o inferno que foi o holocausto, provocado por Hitler (diga-se de passagem, um ditador). Na entrevista Spielberg dizia que fazia isso para que nunca esquecessem o que aconteceu, para que a história não se repetisse.
Acredito que quem defende a ditadura militar, precisaria ler mais livros sobre o assunto, ver mais depoimentos e para ficar bem claro o que é um governo autoritário, que saísse de seu umbigo e visitasse, mesmo que pela internet, a história de países que viveram ditaduras. Eles veriam, sem doutrinação, que ditaduras estão associadas a povos explorados, povos que fogem de sua terra por desespero, povos amedrontados, pessoas que vivem sem personalidade. E quem sabe tentassem me apresentar pelo menos três países em que a ditadura deu certo e o povo, que hoje seja livre, comemore o período de ditadura. Atenção! Eu disse povo que hoje é livre, já aviso que não aceito a Coreia do Norte como exemplo. Que por sinal, é sim um ótimo exemplo de como a ditadura tenta vender para o exterior uma imagem de felicidade, enquanto o povo está na verdade com fome e aniquilado moralmente.
Não vou mais gastar o tempo de quem está lendo repetindo o que os livros dizem, não só os de história, como os de filosofia, os de literatura, os de sociologia, e todos aqueles que estudam e buscam entender a alma humana. Mas vou fazer meu desabafo final. Eu aceito o fato de pessoas esclarecidas defenderem a eleição do presidente atual, até porque se eu fosse contra o direito dele (o eleitor) fazer burrada, eu estaria também sendo contra a toda a minha ideia de democracia. Aceito um presidente que não me representa, mas que foi escolhido pela maioria. Torço para que eu esteja errada e o governo funcione direitinho, pois se ele se ferrar eu, que sou povo, me ferro junto. Mas querer que eu entenda alguém defender a volta de um regime opressor, aí já é pedir demais.
E pra fechar: Não usem como argumento a favor da ditadura de que ela é necessária para barrar uma ditadura de esquerda. Será que vocês já ouviram falar em democracia? Há outros caminhos. Não gaste energia voltando a um passado que não deu certo. Crie um novo, com esperança. Talvez isso não seja um pensamento coletivo porque dá trabalho. É mais fácil escolher um ditador e ficar em casa deixando o barco correr, do que optar pela democracia e ter que fazer seu papel correto.
Eu rompi uma promessa de que não escreveria mais na rede sobre política, mas não resisti. Por favor, se informem do que é ditadura.
Dinaiá Lopes
01/04/2019