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O terno olhar de Madiba
O terno olhar de Madiba

Nelson Mandela - Madiba

 

            O que esperar de um país que sofre um processo tão brutal como o apartheid?

Como evitar que uma resposta de ódio seja dada a um regime tão racista e violento?

            O caos era visível para a população negra da África do Sul. A miséria, o desrespeito, a falta de perspectivas só poderiam levar a violentos conflitos entre negros oprimidos e brancos opressores. Tendo a história como exemplo era de se esperar que o fim disso tudo só ocorresse com uma revolução sangrenta que devastaria o país. Vários países africanos ficaram destruídos na luta por mudanças, como ser diferente na África do Sul?

            Um homem provou que as coisas podem ser diferentes. Mandela é mais do que um homem que falou frases bonitas e de efeito que se perpetuarão pela eternidade. É mais do que o homem que fez artistas do mundo todo olharem para fora de seu umbigo cultural e por conscientização ou por modismo lutarem para libertá-lo e também por mudanças no país. Será que o mundo se preocuparia com o apartheid sul-africano sem o Mandela? Seriam feitos os bloqueios comerciais e culturais sem ele para chamar a atenção para o problema?

            A libertação de Mandela foi fruto de uma pressão externa. O mundo exigia isso. E ele foi solto com os olhos do mundo inteiro voltados para ele, com a mídia o exaltando como um pop star. Será que isto o mudaria? Será que sua vaidade conseguiria segurar a onda? Segurou. E quando muitos esperavam a hora da revanche, ele estendeu a mão. Quando muitos se preparavam para um conflito sangrento, ele falou em união para o bem do país. Deu exemplos vivos e constantes de como deveriam ser amigáveis as relações entre seu povo e o antigo opressor. Aliás, mais do que isto ele mostrou que não deveria haver “eles” e “nós”, deixou claro que agora todos seriam apenas o “nós”. O passado foi deixado para trás e seria usado apenas como motivo de orgulho da luta vencida, mas nunca como combustível para uma vingança insana.

            Conseguir unir dois grupos que sempre se odiaram e evitar que uma maioria sofrida se vingasse de uma minoria opressora, não seria obra para um homem qualquer. Só alguém que conseguiu manter a ternura no olhar depois de vinte e sete anos numa prisão insalubre poderia cumprir esta missão.

            Madiba tornou-se presidente não por vaidade, mas para evitar que um primeiro governo pós apartheid não sobrevivesse as pressões, para ter alguém no poder que o povo escutasse quando se falasse que era o momento de união e para finalmente construir um país de todos. Poderia se perpetuar no poder, mas considerou sua missão cumprida em seu período de governo. Poderia finalmente descansar, mas foi em busca de outras lutas, como a contra a AIDS.

            O mundo tem poucos homens para se orgulhar e Madiba é um desses poucos. O homem que lutou com ternura no olhar.                                                                                                                                                                                                                                     Dinaiá Lopes