Democracia

                Vivemos em instituições que têm suas bases alicerçadas em séculos de história. Falamos de democracia como se fosse uma criação nossa, quando na verdade nem mesmo sabemos vivenciá-la corretamente. E isso não é algo para se envergonhar, pois nem mesmo Atenas, berço da democracia, foi democrática. Pelo menos podemos dizer, sem medo, que somos mais democráticos do que os atenienses nunca foram um dia.

                Institucionalmente, regimes democráticos partem do princípio que todos temos direitos iguais, mas ao longo da história vemos se repetir a máxima de que alguns eram mais iguais que outros.  Se na antiga Atenas, somente eram ouvidos homens atenienses natos, hoje em nossa democracia, ainda capenga, o direito de se expressar atinge a todos (pelo menos tecnicamente). É claro que para participar de um processo democrático devemos aprender a ouvir aquele que pensa diferente e respeitar o direito dele de ser diferente, mesmo que você não o entenda.

                Devo confessar que ao ouvir tantos discursos reacionários, fascistas, racistas e absurdamente anti-humanitários, meu sangue ferveu, mas ele não ferveria em tão alto grau, se eu não percebesse tanta gente ouvindo esses discursos como se fossem pérolas salvadoras de nossa sociedade. Epa!Não foi assim com Hitler? Não foi dizendo o que o povo alemão gostaria de ouvir num momento de extrema crise, que as ideias nazistas cresceram e se espalharam?

                Se a história tem como um dos seus objetivos nos mostrar o que deu errado para não cometermos os mesmos erros, então ouçamos a história ao invés de ouvir pseudos salvadores da pátria.  Tenhamos cuidado para não desrespeitarmos ideias ou minorias, pois um dia poderemos também fazer parte de uma minoria. Ao deixar o mal crescer, não teremos força e nem companheiros para lutar contra ele quando percebermos o que realmente é. Não defenda ditadores, racistas, torturadores, pois nada justifica o desrespeito ao ser humano.

                  Nesse momento de crise, não precisamos tomar partidos já estabelecidos. Por que devo me posicionar com o que até agora só mostrou incompetência política e desrespeito ao cidadão comum? Não preciso, nem quero me posicionar a favor de algo que já está aí. Eu quero é buscar o novo, pois, definitivamente, o que temos deu errado.

                A busca pelo novo dá trabalho. É mais fácil nos enquadrarmos nas velhas receitas do que testar novas e ir quebrando a cara. Mas, continuar apoiando esses velhos abutres que povoam nossos poderes, seja de que lado for que ele se apresente, é admitir que nada mudará.

                Por problemas pessoais, durante toda movimentação política dos últimos dias fiquei quieta, e no que diz respeito a dizer o que quero, continuarei em silêncio, pois não sei o que quero, mas sei perfeitamente o que não quero. Eu não quero a mesmice. O que quero ainda está sendo criado, moldado por um povo que está amadurecendo na base da porrada. Será algo diferente do que temos e que sei que demorará um pouco.

                Vai demorar porque não é de uma hora para outra que mudamos tantos anos de erros; porque nosso povo vem de uma longa história de submissão e aceitação de que é incapaz; porque antes de mudarmos nossa história, teremos que mudar nosso olhar sobre nós mesmos.

                Não há nenhuma pílula milagrosa que nos fará, de uma hora para outra, vermos um Brasil sem problemas. O que existe é a oportunidade de finalmente entendermos que temos voz. Voz para não concordar; voz nas urnas para tirarmos quem faz tanto mal ao país; voz para dizermos que não importa se foi o meu candidato que ganhou a eleição, importa é todos acompanharmos o que é feito por ele e usarmos dos meios democráticos para exigir que cumpra o combinado.

                Infelizmente, uma mudança verdadeira vai demorar, porque isso depende ainda da criança que vai nascer e que será educada por pais que estão aprendendo agora a colocar sua opinião. Ainda erraremos, mas pelo menos espero no futuro, nos curarmos do vício de recolocarmos no poder pessoas que cumprem mandatos de forma tão desonesta.

                Valerá a pena esperar, pois o que será construído compensará. Não devemos buscar atalhos guiados por loucos que pregando a discriminação e a perseguição de vários  grupos de nossa sociedade, acaba dividindo o povo e usando a velha tática de dividir para conquistar. Tenhamos paciência e que ao repassar em nossas mentes as velhas aulas de história, possamos visualizar com clareza onde cada ideia proposta pode nos levar.

                E atenção! Não defenda o que realmente você não conhece, você poderá estar fortalecendo seu algoz.

Dinaiá Lopes

24/04/2016