Roseana no Maranhão das Maravilhas
Nasci e vivo em um país que não deixa de me surpreender a cada dia. São altos e baixos que se sucedem e que nos levam a uma montanha russa patriótica que tiraria qualquer cristão do sério. Teríamos assunto para várias vidas se fossemos optar por discutir a situação política do país, mas não posso deixar passar em branco a crise do Maranhão.
Os jornais falam da crise, debates sobre uma possível intervenção são feitos e a governadora continua a aparecer na mídia com cara de preocupada e olhar choroso para lamentar a morte da menina queimada junto com um ônibus. Mas e as crianças que morrem todos os dias por falta de condições de atendimento nos hospitais do estado, a governadora também chora por elas? As crianças que continuam desnutridas por falta de um programa sério de assistência, ela também lamenta por elas? E as crianças que têm seu futuro comprometido pelas péssimas condições das escolas do Maranhão, ou até a ausência delas, Roseana também lamentam por elas?
O mais interessante desta história é que a governadora não tem a quem culpar a não ser que reconheça a culpa de seu próprio clã que domina o Maranhão desde sempre. Há mais de meio século é José Sarney quem domina a política local e determina quem governará o estado. E depois deste tempo todo o que vemos como legado da família Sarney é o estado com o pior nível de expectativa de vida no país; é a segunda taxa mais alta em mortalidade infantil; O penúltimo estado da União quando se analisa o Índice de Desenvolvimento Humano; O antepenúltimo nos índices que avaliam a situação da Educação dos estados brasileiros. Estes dados, mesmo analisados de uma maneira rápida, já deixam claro qual é o legado do clã Sarney. A situação ainda é mais grave ao percebermos que os índices são cada vez piores, na proporção em que a fortuna da família Sarney cresce.
É importante destacar que ao buscar os índices citados acima verifiquei que os estados que dividem as péssimas posições com o Maranhão também são estados controlados por famílias que por gerações dominam a política local. Como esses clãs políticos ainda conseguem trazer para a vida pública do século XXI o coronelismo do início da República? Como esses grupos conseguem permanecer no poder mesmo apresentando índices de desenvolvimento tão negativos? Como fazer o país respirar aliviado sem essas sanguessugas?
Eu não me importaria se a Roseana gastasse milhares de reais na compra de lagostas e camarões se toda a população também tivesse acesso a esse alimento. Eu acreditaria nas lágrimas da governadora pela menina covardemente assassinada, se pudessem citar em alto e bom tom todos os benefícios que Roseana trouxe para as crianças e jovens do Maranhão. Mas isto talvez fosse possível no país das maravilhas de Alice, não de Roseana. No Maranhão da filha do Sarney ainda temos que ouvir a justificativa absurda de que a violência impera no estado porque ele enriqueceu. Alguém por favor diga a esta senhora que a riqueza só traz problemas quando é mal distribuida.
Em meio a tanto alarido na mídia, li em um artigo que pedir intervenção no Maranhão não seria válido, pois problemas parecidos acontecem em outros estados. Talvez seja este o problema, como o erro se repete em outro lugar pensamos que não há nada que possamos fazer, quando deveríamos pensar em começar a mudança por algum lugar. Este jeito torto de pensar perpetuará essa forma errada de governar com as bênçãos das antigas oligarquias e das novas que chegam propondo mudanças, mas se tornam cópias das anteriores.
Quando arrebentaremos finalmente nosso cabresto? Quando pegaremos as rédeas do futuro político do país? Quando nossa montanha russa patriótica se transformará em uma estrada perfeita por onde transportaremos nossos sonhos para o país que realmente queremos?
Dinaiá Lopes
12/01/2014
