Em minha concepção, luto é um estado emocional pelo qual passamos ao perdermos alguém querido ou que admiramos. No dicionário essa palavra é associada a sofrimento, dor, perda. Desta forma não consigo entender o motivo que levou nossa presidente a decretar luto de três dias pela morte do brasileiro executado na Indonésia. Não aceito a justificativa de que a execução desrespeitou os direitos dos brasileiros, pois o Sr Marcos, por mais duro seja admitir, desrespeitou primeiro a soberania da Indonésia. Não pode nem mesmo alegar ignorância da questão, pois todos os estrangeiros são amplamente avisados dos riscos de traficar naquele país. O próprio brasileiro declarou que sabia dos riscos. Talvez para sua defesa ele poderia apenas dizer que imaginava que lá tudo terminasse em pizza, como aqui.
Sou contra pena de morte. Não acredito que o homem tenha direito de tirar a vida de outro homem em nenhuma situação. Se o crime é bárbaro, e ele não possa conviver com outros seres humanos, então que ele fique em uma solitária pelo resto de seus tempos nesta vida. Mas não podemos nos igualar aos maus respondendo violência com violência disfarçada de justiça.
Acredito que este seria o pensamento da maioria das pessoas se nós vivêssemos numa sociedade justa, onde o crime fosse punido de forma real e não víssemos tantas aberturas, lícitas e ilícitas para propiciar ao criminoso escapar da punição. Não entrarei nem mesmo na questão do absurdo que é o nosso sistema carcerário, onde há na verdade uma pós-graduação criminal.
Fica claro que usamos o critério dos dois pesos e duas medidas, ou seriam vários pesos e várias medidas? Ficamos revoltados quando estrangeiros vêm até aqui, fazem coisas erradas e na hora de serem punidos são extraditados para serem julgados e punidos em seus países. Ficamos furiosos quando vemos que estrangeiros agem como se o Brasil fosse terra sem lei (???) e desrespeitam abertamente nossas leis e instituições por se julgarem superiores a este pobre país (ou seria melhor país pobre?). Então, como entender acharmos que um brasileiro pode fazer isto tudo em outro país?
Sei que é complicado entendermos como uma pessoa pode ser condenada a morte por tráfico de drogas vivendo em um país em que traficante é herói em muitas comunidades. Sei também que a própria Indonésia é totalmente incoerente no assunto, ao negar perdão aos brasileiros que entraram com droga em seu país e pedir pelo perdão para uma mulher indonésia condenada por assassinato em outro país. E olha que é difícil para muçulmano pedir perdão para uma mulher assassina.
Marcos foi executado, a soberania da Indonésia prevaleceu. Tenho certeza que brasileiros usados para o tráfico pensarão duas vezes em entrar com drogas em países com essa legislação. Mais do que me preocupar se esses países estão certos ou não, me preocupo com mais uma demonstração de valores errados em nosso país. As mães dos dois brasileiros condenados fizeram a defesa usando o mesmo argumento – eles erraram, merecem ser punidos, mas não com a morte. Esse olhar da mãe é correto. Nós, aqui no nosso país sermos contra a pena de morte, é válido. Mas para defender uma ideia não podemos tornar ídolos aqueles que cometeram erros graves, conscientes que estavam errando. Sinto muito pelo brasileiro morto tão distante, morto como um animal em um abatedouro. Choca, entristece e espero, sinceramente que chegue o dia em que não vejamos mais isso, na Indonésia ou em qualquer outro lugar do mundo. Mas não podemos fazer com que esta tristeza e discordância nos tirem a capacidade de análise real e perda de valores. Como é triste a morte deste brasileiro, mas não vamos mudar o foco da questão e transformá-lo em herói por isto.
Dinaiá Lopes