Sei que vai parecer falso, mas devo começar este texto dizendo que não acompanho novela. Não tenho nenhum tipo de preconceito, apenas não tenho muita paciência ou talvez por acontecerem num horário que eu tenha outros afazeres. Mas independente de gostar ou não, somos invadidos constantemente pelos dramas novelescos. São comentários no trabalho, revistas expostas em bancas de jornais e em prateleiras na fila do caixa do supermercado. Basta dar uma virada, e lá estão os ídolos globais.
De uns dias pra cá, em meio a toda exposição dos artistas nos sites, sempre que vou abrir meu e-mail, vejo alguma coisa sobre o dilema de Marina Ruy Barbosa, a pergunta que não queria calar era: “Ela vai ou não vai ficar careca?” Acabei acompanhando o drama da cabeleira da atriz e hoje li que ela finalmente decidiu que não rasparia a cabeça.
Sei que não vai alterar em nada a política econômica do país, as escolas e hospitais não ficarão melhores, tudo continuará como sempre - inclusive o cabelo de Marina Ruy Barbosa. Mas devo confessar, isso mexeu comigo. Tocou numa parte que ainda está sensível em mim. Afinal, não tive a opção dada para a atriz
Acredito que por ser muito novinha, ela ainda não tenha consciência de seu papel na sociedade. O ator, com o suporte do autor, pode levantar grandes bandeiras. Quem não se lembra de Carolina Dieckmann ficando careca e mostrando a todos que depois o cabelo cresce novamente, que não é o fim do mundo. Que quando se tem o diagnóstico de uma doença grave o que se deve pensar é que acima de tudo devemos lutar pela vida e não pela vaidade. Essas mensagens deixadas por ela e pelo autor Manuel Carlos ficarão para sempre.
Já a Marina é novinha, não tem vivência como pessoa para entender isto ainda e pelo que vi também não tem vivência profissional. Não é apenas uma atriz que não quer raspar a cabeça, é uma pessoa pública, numa grande mídia, em horário nobre passando para todos a ideia que ficar careca é horrível. Ainda bem que ela tem o pribilégio da opção de não ficar e eis a grande diferença. Se em um primeiro momento fico chateada com a decisão dela, agora me coloco em seu lugar e de uma maneira racional penso: bonita, novinha, com uma cabeleira divina... Podendo usar recursos da produção da novela, por que raspar a cabeça? Mas gostaria de vê-la raspando a cabeça com a mesma coragem da Carolina.
Pois digo à senhorita Mariana que ter ficado careca não mudou em nada minhas atividades. Descobri coisas legais para usar e não tinha nenhum problema em ser vista sem cabelo. Escutei elogios maravilhosos de meu companheiro que a todo instante levantava meu astral. Brincava que não me preocupava com o tipo de shampoo ou condicionador usar, nem como iria pentear meu cabelo. Digo isto porque no início de meu tratamento li na clínica uma historinha bonitinha que reproduzo agora para vocês:
"Uma mulher acordou uma manhã após a quimioterapia , olhou no espelho e percebeu que tinha somente três fios de cabelo na cabeça.
- Bom (ela disse), acho que vou trançar meus cabelos hoje.
Assim ela fez e teve um dia maravilhoso.
No dia seguinte ela acordou, olhou no espelho e viu que tinha somente dois fios de cabelo na cabeça. - Hummm (ela disse), acho que vou repartir meu cabelo no meio hoje.
Assim ela fez e teve um dia magnífico.
No dia seguinte ela acordou, olhou no espelho e percebeu que tinha apenas um fio de cabelo na cabeça. - Bem (ela disse), hoje vou amarrar meu cabelo como um rabo de cavalo.
Assim ela fez e teve um dia divertido.
No dia seguinte ela acordou, olhou no espelho e percebeu que não havia um único fio de cabelo na cabeça. -
Yeeesss... (ela exclamou), hoje não tenho que pentear meu cabelo."
Essa passou a ser a minha forma de ver o problema e é isto que gostaria que as pessoas pensassem sobre o assunto. É isto que procuro passar para quem encontro iniciando o tratamento. Considero que o ponto principal é ter fé, pois com a fé vem a certeza de que tudo será o melhor para você, então você começa a pensar coisas boas. Pensar coisas boas é o principal ingrediente do remédio que tomamos.
Ter bons exemplos também é muito importante dentro do processo de tratamento. Eu soube da notícia do meu diagnóstico na mesma semana que o Reynaldo Gianecchini divulgou o dele. Ficamos carecas juntos e me ajudou bastante ver que uma pessoa pública que tinha a beleza como base de seu trabalho, não demonstrava nenhuma frescura em aparecer sem cabelo e que isto só o tornou ainda mais bonito.
Bom, dito isto, eu não sei se vai adiantar alguma coisa, mas se a Marina não quis se mostrar careca, eu faço isso por ela. E digo a todos que estão passando por esta etapa, que não se preocupem, logo o cabelo crescerá, ainda mais forte e bonito.
Beijos carecas a todos.
Dinaiá Lopes