Polêmica Desnecessária
Outro dia vi uma reportagem em que um rapaz dizia que ser homossexual não era sua opção e sim sua condição. Ele explicou que ninguém racionalmente optaria em ser algo que traria tantos problemas com preconceitos, que geram perseguições, agressões físicas e morais. E terminou dizendo que se pudesse optar, ele escolheria ser o que todos consideram normal, mas sua condição lhe determinava que seria uma mentira. Então, se ele fez uma opção, foi pela verdade, não pela sexualidade.
Lembrei desta reportagem porque constantemente aparecem na mídia e nas redes sociais, depoimentos e declarações sobre o assunto. A bola da vez é o direito ou não da demonstração de carinho entre casais homoafetivos . Há quem se sinta agredido com estas demonstrações públicas de afeto. Eu garanto que não me sinto agredida. O que me agredi é ver alguém ser humilhado, ser roubado, ser agredido fisicamente, ser constrangido, ser violentado e tantas outras formas de violências físicas e morais que vemos todos os dias à nossa frente.
Os que se importam com esses momentos de carinho em público, afirmam que são demonstrações exageradas. As demonstrações exageradas me deixam sem graça, claro, sendo de casais héteros ou gays. Mas não estamos falando de exagero, estamos falando de carinho. Ver dois homens ou duas mulheres com demonstrações de afeto não me agredi em nada. E pensando racionalmente, devo dizer que esses carinhos não farão meu salário aumentar, não melhorarão as condições das escolas públicas, não livrarão o Brasil dos políticos corruptos... Então por que essa discussão deve tomar tempo das pessoas?
No alto dos meus 53 anos me permito hoje escolher um amigo ou aceitar a amizade de alguém por ela ser uma pessoa íntegra, honesta e com valores que trazem coisas boas para quem está a sua volta, não me preocupo se o parceiro dela é do mesmo sexo ou não.
Um dia interrompi uma aula porque um aluno fez um comentário grosseiro para outro aluno que havia passado pelo corredor e era gay. Tentei dialogar com o agressor, mas de repente, diante das respostas dele, percebi que iria perder a paciência. Foi quando ele disse debochadamente: “ A senhora gostaria de ter um filho gay?” e me peguei dizendo que não, que não gostaria de ter um filho gay para não vê-lo sofrendo preconceitos por parte de pessoas ignorantes como ele. Por coincidência vi alguns dias depois, num programa de TV um pai dando depoimento de que quando descobriu que seu filho era gay ficou com muita vergonha, chegou a proibi-lo de visitá-lo no trabalho (ele era treinador do Palmeiras na época) mas um dia, ouviu de um amigo que ele tinha muita sorte de ter um filho íntegro, honesto, responsável, trabalhador. Que ele daria tudo para que seu filho fosse assim. Então, pela primeira vez o treinador se envergonhou do comportamento que teve e a partir dali eles construíram uma amizade que ia além das obrigações entre pai e filho. E o principal, passou a se orgulhar do rapaz.
Meu objetivo aqui, não é fazer apologia a nada, mas me incomoda ideias serem propagadas que podem gerar situações de conflito. Não quero, não posso e nunca concordaria em impor nenhuma ideia a ninguém. Uma mudança nunca é verdadeira quando é imposta. Mas penso que já é hora para as pessoas aceitarem que o mundo mudou e mesmo que não concordem com a mudança percebam que devem respeitar as mudanças. Volto a dizer, não devemos propagar a violência espalhando ideias preconceituosas. Sei que a grande maioria que fala não aceitar, não teria coragem de partir para a agressão, mas sempre tem aquele que usa essas ideias propagadas como justificativa para serem violentos.
Coloquei lá no alto o título de polêmica desnecessária, pois se todos somos cidadãos (gays ou não) e como cidadãos temos direitos, então é desnecessário polemizar algo que é um direito constitucional, ou pelo menos deveria ser desnecessário.
Um mundo melhor, é um mundo sem fome, sem violência, com melhores condições de vida, com um bom sistema público de saúde e educação e com respeito entre as pessoas; É nessa luta que devemos nos ater.
Dinaiá Lopes
